sexta-feira, 4 de julho de 2008

Fim de tarde

A noite caiu e trouxe com ela a chuva, não lembro ao certo que horas eram, mas sei que naquele dia, escureceu mais cedo que o normal. Pra mim era um final de tarde perfeito, adoro chuva, e fui levado aos poquinhos pelo vento que balançava a copa das árvores, cheguei no carro, com a camiseta denunciando a chuva que caia, uns poucos pingos, típico de quem correu pra não se molhar, sim, por que mesmo gostando de chuva, não estava disposto a pegar uma gripe...no caminho até o carro, cerca de cem metros, pulei duas poças d'agua e ainda tive tempo de sentir o cheiro de terra molhada, aquele que lembra os tempos de infância, onde jogar bola na chuva era melhor do que ficar preso dentro de casa, em frente ao autorama, ou então passando de fase no grande e perigoso river-ride...
Entrei no carro, sentei e olhei para o lado, como se fora uma bailarina, uma árvore, que nem imagino o nome, dançava e convidava a chuva a banha-la. Era tudo tão lindo, parecia algo planejado, ensaiado, quando liguei o carro, senti a chuva ficar ainda mais forte, o vento, por sua vez, acalmou-se, como se agora fosse a vez dele contemplar e respeitar a chuva que caia imponente.
Quando pus o carro a andar tive a certeza de que tudo aquilo era de verdade, que era puro, confesso que senti vergonha quando imaginei que o cano de descarga do corsa poderia estragar o espetáculo que a natureza proporcionava..mas enfim, o corsa não estava ali sozinho, tive então que fazer uma meia culpa...Sai dali, aos poucos fui chegando ao centro da cidade, da minha cidade, aquela que me viu nascer, crescer, e que se depender dos meus sonhos e desejos mais secretos, ainda vai ver nascer os dentes de meus filhos, espero que assim como eu, eles gostem de passear pelo calçadão, que eles achem bonito o por de sol quando visto lá da universidade, e que nos domingos à tarde, eles se pendurem na minha calça de abrigo, e não me deixem em paz até que eu os leve pra caminhar (eu) e correr (eles) no parque itaimbé.
E foi pensando em tudo isso que fui subindo a presidente, olhando para os lados e vendo tudo que só encontro aqui, antes de continuar, parei para abastecer, na verdade pra colcar os famosos "dez pila"...Quando volto a andar e continuo a subir a avenida que recebeu o nome do mais importante presidente que tivemos, me deparo com o amontoado de luzes das casas, e estabelcimentos comerciais, todas elas paradas, assumindo seus papeis de coadjuvantes, o papel principal era dos carros, motos, e de tudo mais que tem motor e farois, Ah ! não posso esquecer das buzinas, cada uma num tom diferente, nenhum capaz de fazer algo mudar...tudo isso no meio da chuva, que felizmente insistia em não me abandonar...nesse momento lembrei da árvore que dançava suave com o vento... aquela mesma que ficou lá atrás, mas nem por isso distante, questão de sete minutos, tá bom, onze, por causa do transito, sabe como é dia de chuva...
Quando percebi isso, tive a certeza, na prática, que tudo muda, e que a fases, estações, ritmos, momentos, enfim, situações diferentes, pra tudo, em tudo, e que eu sou sim responsável por decidir se prefiro a árvore ou as buzinas..não apenas no final de tarde, mas na vida, na chuva de cada dia, afinal, quem está na chuva, é pra se molhar.

Por Fabiano Oliveira

6 comentários:

marcelo disse...

Não é a toa que chegou onde e chegou, e vai muito mais longe!

Liciane Brun disse...

muuito bom...

Patric Chagas disse...

ae massa!!!ano lendo o Márquez?pq ta lokiando nos detalhes!!!

Anônimo disse...

Adorei...incrível a paixão que tens pela cidade...e a forma que percebes e descreves detalhes.

Carol do Sul do Sul disse...

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Gota de chuva, bigode de gato, laço de fita, flor na janela e botão no capim

Não abandone teus textos e nem esse bloguito que já está nos meus favoritos.

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Unknown disse...

vou ter q adicionar esse blog nos meus favoritos!