quarta-feira, 23 de julho de 2008

A casa da esquina e a fita K7


Hoje, quando peguei a Zero Hora, fiz questão de nem ler a matéria de capa, a foto era suficiente para me dizer que o assunto não iria me agradar.Por mais que seja uma notícia importante, ainda assim, se trata de uma tragédia. E hoje, pelo menos hoje, eu não quero saber de coisas ruins.
Pois bem, fui passando, como hoje é quarta-feira, resolvi fazer o que um bom amante de futebol costuma fazer em dia de jogos importantes, ler o jornal de trás pra frente, logo de cara encontro com a foto risonha de David Coimbra, logo em seguida vou passando pelas contratações de D’alessandro, Gustavo Nery e Daniel Carvalho. Puxa! Suficiente pra me arrancar um sorriso, mesmo sabendo, que nosso gringo camisa cinco vai embora, e que nosso meia-goleador de voz fina também se despede.Hoje tem jogo do colorado, e a camisa com numero oito e distintivo bordado, tem cadeira cativa na sala de casa.
Volto um pouco mais, e ai sim, já fora dos esportes, encontro o começo de uma nova história, dois homens bem diferentes e ao mesmo tempo muito iguais, um deles com fama de gênio complicado, o outro, um boa praça, de sorriso tímido. Se isso os diferencia, existe algo muito maior que os aproxima, e os dois sabem bem disso.
Falo aqui de Humberto Gessinger, e Duca Leindecker...
Eterno líder da maior banda que o Rio Grande do Sul já viu nascer e crescer, no comando da engenharia havaiana, Gessinger lançou dezessete discos, viu sua banda trocar de formação seis vezes, em 1992 tentou carreira solo, e não teve vergonha nem medo de voltar atrás, e retomar a história dos Engenheiros do Hawaii, amado por uns e odiado por outros, não há dúvida que é um dos mais polêmicos e talentosos músicos que o Brasil tem. Mas ele não é só músico, o Humberto é poeta que tem o seu jeito caracteristico até pra coçar a barba.
Já Duca Leindecker, começou ainda pequeno ao lado do grande Alemão Ronaldo, em uma das bandas mais respeitadas pelos músicos porto-alegrenses, a lendária Bandaliera, nessa época, o então menino Duca tinha apenas dezessete anos.Tempos depois, no início dos anos 90, Duca, ao lado dos irmãos Luciano (de sangue) e Cau (de coração) monta a Cidadão Quem.
Engenheiros e Cidadão, sempre foram duas das bandas mais idolatradas pelos gaúchos, e no caso dos Engenheiros, isso se repete Brasil afora.
Não sei se por coincidência, ou se pelo faro por coisas boas (modesto), tenho duas situações bem marcantes na minha vida, e cada uma delas diz respeito a esses dois caras,Gessinger e Duca...
Quando eu ainda tinha onze anos, e só ouvia as músicas sertanejas que meu pai colocava no 3 em 1, fui apresentando para uma fita K7 dos Engenheiros do Hawaii, nunca tinha ouvido nada além de era um garoto que eu amava os Beatles e os Rolling Stones...Nossa, aquilo mudou minha vida, literalmente, ouvia a fita a toda hora, pirei com Infinita Highway e Terra de Gigantes, queria decorar o que aquele alemão cabeludo, tocador de baixo, cantava sobre as guitarras cheias de efeitos que eu não sabia que existiam.Por vezes tive medo de arrebentar o tal K7...
Já faz quase quinze anos, em todo esse tempo perdi as contas de quantas vezes fui a loja de discos, pra saber se tinha novidades da banda, mesmo que fosse uma dessas coletâneas que as gravadoras inventam pra ganhar dinheiro, eu queria tudo que tivesse aquelas engrenagens na capa.Perdi as contas de quantas vezes entrei em discussões, na grande maioria sozinho.Lembro bem da minha alegria ao gravar os shows que a banda fazia no planeta Atlântida, e claro, não esqueço da vez em que fiquei até as três da manhã, ouvindo e gravando, o papo que o Gessinger batia com Mister Pi.
Ainda hoje penso que muitas das coisas que Humberto escreve e canta, contam um pouco do que sou, e isso muito me orgulha, sei que mesmo nos dias em que as coisas não vão bem, ainda posso colocar os fones no ouvido e buscar minha “cura”.
Já o Duca, veio um pouco mais tarde, e também com o planeta Atlântida, sim, ele, a exemplo do Humberto também mereceu uma fita com seu nome escrito com caneta marca texto.
Mas a história que me aproximou do Duca veio depois, um amigo pegou, não sabe por qual motivo, um livro com capa branca e laranja, que estava na biblioteca da escola, acabou não lendo, e mais que isso, esqueceu aqui em casa, resolvi ler A casa da esquina, primeiro livro de Duca, pouco mais de cem páginas, mas que me levaram até a casa amarela e cheia de mistérios.
Depois disso, já nos tempos de segundo grau, promovi o encontro musical de engenheiros e cidadão, convidamos também o Cazuza, o Nenhum de Nós, a Ana banana do TNT e outros tantos que mexiam com nossas cabeças.Foi tudo aqui em casa, quando a nossa humilde e modesta bandinha de garagem ensaiava, (abraço pro Douglas e pro Gustavo) que bom que nosso barulho parou, viram só, nenhum sabia nada de música, tanto que hoje um é militar, outro professor de informática, e ainda tem um que acha que é radialista.
O tempo vai passando e as coisas vão acontecendo, fui a três shows dos Engenheiros, o ultimo deles em novembro do ano passado, dia 15, em Santa Cruz do Sul.
Shows da cidadão, fui em seis, o ultimo deles este ano, dia cinco de junho, no Absinto, durante a tarde bati um papo com o Duca na rádio, pra mim ainda é meio louco estar tão perto de uns caras que um dia pareciam estar muito longe.
A noite caiu, desci a Fernando Ferrari com um frio na barriga, havia sido avisado, por telefone uns minutos antes, que eu tinha uma missão, iria chamar a banda pro palco.
Assumi a bronca e tentei fazer o meu melhor, não é tão novidade pra mim, já fiz isso com outras bandas, várias delas com expressão bem legal, mas com a Cidadão era diferente, ainda mais depois da parceria que o Duca estabeleceu com o Humberto.
Hoje, quando li na Zero que as duas bandas, Cidadão e Engenheiros, vão dar um tempo, senti medo, enquanto a galera da cidadão tem data pra voltar, o Humberto diz não ter certeza de nada.
Sei que coisas boas vem dessa parceria musical e literária entre o Humberto e o Duca, mas tenho receio de não ter chance de realizar um dos meus maiores sonhos...
Gritar bem alto a seguinte frase: Com vocês, os Engenheiros do Hawaiiiiiiiiiiiiiiii !

Por Fabiano Oliveira

2 comentários:

Liciane Brun disse...

muitoooooooo bommm
e eu quero ver tu realizando esse sonho!
Beijoos

Camila disse...

...nessa terra d gigantes, q trocam vidas por diamantes...
...alguém q não olha pra trás não sabe ver o q a vida fez, cedo ou tarde encontra o segredo pra tentar achar a si mesmo...
Por mais q essa “parceria musical e literária” dêem um tempo, tenho certeza q sabes o q a vida fez e encontrastes a si mesmo...portanto n tem pq ter receio!!!
Beijo